outubro 29, 2013

A gravidade depois de 2001

Gravity vai ficar marcado em mim como a melhor experiência em sala de cinema que já tive. No final, fiquei com curiosidade para saber se a versão normal traria o mesmo tipo de sensações e conclusões que aquelas vistas e tiradas naquele ecrã gigante, pois é inegável que a sala IMAX do Colombo proporciona uma experiência física diferente que, a meu ver, permite aproximar o espectador daquilo a que este filme se propõe. E quando falo em aproximar é quase no sentido literal do termo.
Em termos visuais, Gravity é um espectáculo colossal e magnânimo fazendo justiça ao extremo clima espacial. O trabalho na profundidade dos planos e a noção de velocidade na deriva, quer nas situações mais controladas ou nas mais descontroladas e aliado à forma como se encaixam os sons e a música está feito de forma notável. Não fossem as punch lines comercialoides da personagem de Clooney ou a necessidade de preencher o silêncio com outras linhas de diálogo desnecessárias e estaríamos aqui perante um filme maior, possível de chegar perto de 2001 já que é com este que se pode estabelecer alguma espécie de paralelismo, em termos estéticos e na fidelidade ao real do Espaço, claro.
Sendo verdade que em termos narrativos tudo aquilo que tem vindo a ser feito na ficção científica, incluindo este Gravity, continua a estar a anos-luz de 2001, ainda assim os aspectos da estória deste filme são abordados de uma forma que, à órbita e no olhar sobre a “mãe azul” e sob a infinitude espacial, atingem um inevitável nível filosófico que acaba por estar bem conseguido. Se a origem do Homem está naquele vazio tão total e complexo, é pois confrontado com esse vazio que o Homem acabará por encontrar as respostas mais simples para a sua sobrevivência. O desfecho é categórico nesse sentido, pelo que foi então na situação-limite da mais perfeita e derradeira solidão e na eminência do silêncio eterno, que Ryan Stone teve a epifania da sua vida que lhe permitiu no final ganhar de novo a gravidade.

outubro 28, 2013

A cena do chuveiro

Neste espaço onde pretendo trazer algumas das cenas de cinema que considero mais memoráveis estarão com certeza muitas daquelas que nos vêm logo à memória e que correspondem a filmes que marcaram a história. A recuperação de certas cenas será então um cliché ou mais um apontamento de banalidade dada a popularidade dessas imagens, não nego isso. Mas por outro lado nunca é demais rever e relembrar esses momentos, muitas vezes feitos de simplicidade, frutos do fait diver, feitos sem o propósito de tornar memorável, não mais sendo do que pedaços que complementam uma narrativa.
Neste caso relembrar a cena do chuveiro em Psycho é mais do que um cliché. Mas na perspectiva da análise e estudo da mecânica cinematográfica, esta revisitação é seguramente uma obrigação.