maio 16, 2013

Malick não é deus

Mais do que ser um realizador que se ama ou detesta, Malick é um daqueles em que se acredita ou não, e tal como deus, cujo provas da sua existência nunca me foram mostradas, também em relação a Malick tenho a mesma atitude. Não acredito. E não é por ter filmado os dois últimos filmes como se fosse um deus que mostra a “verdade” que eu passo a acreditar, quer em deus, quer em Malick. É verdade também que o realizador é uma espécie de deus no sentido em que cria um universo próprio, à sua imagem e reflexo do mundo, mas a forma como Malick faz cinema e como mostra esse seu universo faz-me duvidar muito do seu génio.
Aprecio realizadores que tenham uma marca e estilo que os distingue nessa arte de filmar tais como Darren Aronofsky ou Paul Thomas Anderson, por exemplo. Embora se alimentem de algumas características que marcaram o cinema de Hitchcock ou Kubrick, emanciparam-se através de uma nova forma de olhar o cinema mais contemporânea e, à semelhança de tais mestres, sem pretensiosismos baratos. Já em Malick é diferente. Esta opção em filmar espécie-de-deus o milagre da vida reflecte-se na forma como capta a ternura do céu, o sentimento da meteorologia, o apego do ar do vento e dos silêncios e Malick ao descrever estes nadas com tamanha totalidade transforma essa beleza em algo repetitivo e esgotante. Bastava parar um pouco e agir em conformidade com a natureza e com os tempos do homem para ser diferente e deixar de mostrar os personagens naquele exercício de improvisada levitação entregues a si mesmos como se de extra terrestres autistas se tratassem. Todos eles são aéreos, não daqui, embebidos por um tal belo das coisas simples e naturais que os rodeiam mas que num repente, como que ocasionados por ímpetos bipolares, são capazes de se submeter ao drama feitos vítimas do mal da humanidade num rebaixamento ao tal deus às mãos de Malick a quem parecem dirigir as suas narradas palavras ocas.
É verdade que capta bem a essência de cada pormenor mas também é verdade que não permite qualquer tentativa pelo entendimento de uma narrativa e de um anunciado propósito maior porque despreza esse processo. A maneira como age perante os actores dando-lhes a já famigerada liberdade de interpretação encerra a revelação plena daquilo que para o realizador representam: meros objectos sem objectivo no meio de um universo cheio de vazio onde existe apenas Malick para o compreender. E isso é muito pouco.


3 comentários:

  1. Também gosto muito do PT Anderson e do Aronofsky parecem-me ser alguns dos realizadores mais interessantes desta nova geração de realizadores americanos. Mantenho grandes esperanças nos seus projectos (ainda não vi o Master).

    Quando ao Malick - que ainda me faltam os 2's primeiros - gostei muito do que vi, então quando vi o New World em sala de cinema, fiquei bem impressionado (maravilhosa fotografia). No caso do Tree of Life, apesar das grandes qualidades que tem não me rendi totalmente por alguns dos motivos que mencionas no texto. Malick não é deus e nem Tree of Life é o "2001 odisseia no espaço" :P
    Mas tenho de o rever um dia, agora que o vírus da expectativa já passou.

    O novo parece ser um segundo capítulo do anterior, agora focado no amor. A descobrir em breve.

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  2. Deixa-me que te diga que és corajoso, porque hoje em dia cada vez reparo mais que é quase crime criticar o cinema do Malick de forma negativa. Não me posso pronunciar muito perante a obra deste realizador, pois ainda só vi o "The New World" e o "The Tree of Life". O primeiro gosto bastante. O segundo gosto mas não lhe atribuo o título de obra-prima como tantos apregoam. Visualmente são ambos muito bons, tal como aparentam ser os restantes filmes que ainda não vi.

    Abraço,
    Rafael Santos
    Memento mori

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  3. Sim o meu texto centra-se apenas e só acerca dos dois últimos filmes do realizador e do caminho que ele tomou nesses filmes.

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