É curioso ver que mais do
que sensibilizar os espectadores para uma agenda oculta presente no filme The
Shining, o documentário Room 237 - pelo absurdo das teorias apresentadas e de como são "provadas" - acaba por chamar a atenção única e exclusivamente para alguns erros de
continuidade que afinal são comuns a todos os filmes, mas que aqui tendem a ser
mostrados como tencionais e propositados. Nada mais retenho deste documentário,
a par de uma ou outra curiosidade que poderá ter fundamento, como por exemplo,
a possível provocação de Kubrick a Stephen King com a cor do carro, ou ainda a
ideia de que o filme pode ser visto de trás para a frente com a respectiva
sobreposição sobre a projecção normal do filme que é interessante mas que valerá
mais pela piada que certas coincidências desses planos sobrepostos podem
mostrar.
Admito que Kubrick é terreno
fértil para diversas interpretações, tal como uma obra de arte que está sujeita à
crítica subjectiva, mas neste caso em particular os fundamentalistas da conspiração
não deverão ter sido alheios ao facto de a seguir às filmagens de Barry
Lyndon o realizador ter supostamente entrado em contacto com profissionais da
publicidade e marketing com especialidade na inclusão de mensagens
subliminares nos seus produtos. Poderá ter sido aqui o ponto de partida para a
especulação. Como artista da imagem e especialista supremo na arte de filmar, concedo
que nada do que é visto nos filmes de Kubrick é feito ao acaso, mas daí a fazer-se
a correspondência simbólica com o Holocausto, a
missão Apollo ou o genocídio dos povos indígenas dos Estados Unidos já me
parece algo rebuscado demais.
Assumindo o certo mistério
que há em Kubrick, há que dizer, por paradoxal que pareça, que a decifração dos
seus códigos não se pode resumir à aritmética mais ou menos elaborada daqueles
que procuram na multiplicação das partes a soma de uma verdade lunática sobre a sua obra.
É verdade que se cometem exageros na apreciação das obras do Kubrick, mas não deixa de ser fascinante como se conseguem descobrir tantos significados e tantas coincidências nelas! Ainda não vi este filme :P
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