setembro 09, 2013

Blowup

Todas as palavras serão poucas para fazer justiça à totalidade de Blowup de Antonioni. Nem a cena que trago consegue reproduzir a ideia que gostava de transmitir. Mas, usando de um esforço que só este tipo de filmes pode merecer, vou tentar dizer alguma coisa. Aquilo que com certeza mais me fascina no cinema é a possibilidade que ele tem em reunir várias modalidades artísticas em função da ficção filmada. Desta forma, Blowup suporta este meu fascínio não sendo apenas um filme, mas sim uma conjugação plena de formas de arte que resultaram num filme de uma afirmação cultural que acaba por extravasar as fronteiras do tempo. Neste filme em particular é absolutamente brilhante o enquadramento da narrativa num modeling pop alternativo que se reflecte no guarda-roupa, na música, na cenografia e na construção da função do fotógrafo concebida como um escultor de imagens vivas. Se repararmos bem a imagem do poster original do filme parece um monumento, uma escultura tirada do momento em que o fotógrafo possui a modelo através da fotografia, imagem que remete até para o acto sexual. Há com certeza muitas cenas ou imagens que suportem melhor esta ideia que tiro do filme, mas vale a pena rebuscar a cena do concerto porque reflecte a preocupação séria em ancorar de realidade o filme. A cena acontece num sub-club britânico onde as pessoas que assistem ao espectáculo comportam-se como manequins mesmo perante a fúria das guitarras de Jimmy Page e Jeff Beck dos Yardbirds que depressa resolvem tornar o concerto num desconcerto generalizado tal a geração ali representada na mais perfeita extravagância, enfim, motivos muito singulares que servem de pano de fundo à inquietante busca pela verdade ou por aquilo que o fotógrafo julga ser a verdade.

1 comentário:

  1. É uma grande cena num grande filme, mas gosto sempre de destacar o final dos filmes do Antonioni, porque fica sempre um tom de incerteza e de espanto que os torna inesquecíveis :)

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