Todas as palavras serão
poucas para fazer justiça à totalidade de Blowup de Antonioni. Nem a cena que
trago consegue reproduzir a ideia que gostava de transmitir. Mas, usando de um
esforço que só este tipo de filmes pode merecer, vou tentar dizer alguma coisa.
Aquilo que com certeza mais me fascina no cinema é a possibilidade que ele tem
em reunir várias modalidades artísticas em função da ficção filmada. Desta
forma, Blowup suporta este meu fascínio não sendo apenas um filme, mas sim uma
conjugação plena de formas de arte que resultaram num filme de uma afirmação
cultural que acaba por extravasar as fronteiras do tempo. Neste filme em
particular é absolutamente brilhante o enquadramento da narrativa num modeling
pop alternativo que se reflecte no guarda-roupa, na música, na cenografia e na
construção da função do fotógrafo concebida como um escultor de imagens vivas.
Se repararmos bem a imagem do poster original do filme parece um monumento, uma
escultura tirada do momento em que o fotógrafo possui a modelo através da
fotografia, imagem que remete até para o acto sexual. Há com certeza muitas
cenas ou imagens que suportem melhor esta ideia que tiro do filme, mas vale a
pena rebuscar a cena do concerto porque reflecte a preocupação séria em ancorar
de realidade o filme. A cena acontece num sub-club britânico onde as pessoas
que assistem ao espectáculo comportam-se como manequins mesmo perante a fúria
das guitarras de Jimmy Page e Jeff Beck dos Yardbirds que depressa resolvem
tornar o concerto num desconcerto generalizado tal a geração ali representada
na mais perfeita extravagância, enfim, motivos muito singulares que servem de
pano de fundo à inquietante busca pela verdade ou por aquilo que o fotógrafo
julga ser a verdade.
É uma grande cena num grande filme, mas gosto sempre de destacar o final dos filmes do Antonioni, porque fica sempre um tom de incerteza e de espanto que os torna inesquecíveis :)
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