Que xadrez é este,
Bergman? Qual aquele oceano e onde fica este paraíso de pedras? Mas que
silêncio infinito guardará o silêncio destas peças? É estranho ver uma imagem
de um filme sem saber qual o contexto, sem ter visto portanto o filme e tão
pouco do que fala. O Sétimo Selo. Sempre me intrigou este título. Dizem que é
uma obra-prima como quase todos os filmes do mestre, não duvido, mas não
conheço, este e certamente muitos outros e também a verdade é que quanto mais
se conhece a realidade mais longe estamos de conhecer tudo, seja tudo o que
for, mesmo que seja nada ou a simples aparência da insignificância mais vaga e abstracta.
Não será isso propriamente mau se for consciente a afirmação dessa condição e
não feita puramente assente na deriva material do materialismo que nos aproxima uns dos
outros e que nos dá tanto conhecimento mas que no fundo desvirtua a base
elementar da convivência com o silêncio da natureza, da viva à mais morta e da nossa própria.
Quero pois olhar
para esta imagem e sentir que através da sua configuração intelectual consigo
atingir o estado espiritual térreo que preciso para interpretar as coisas
simples. Pois hoje é dia de ser mais um dia simples, um dia em que estou farto
deste ruído agreste que vem de fora. Hoje não quero ver imagens em movimento, não
quero ouvir nada que não venha da minha cabeça e só quero imaginar que a minha
única virtude é ser um ser que só se concretiza parando o movimento das coisas
sem querer saber do resto. Hoje é o dia para visitar a minha ignorância sobre
as coisas e apelar ao meu espírito de aventureiro desventurado que se perdeu
no caminho da razoabilidade.
Será esta imagem a
afirmação da racionalidade do homem através do movimento tabular sobre as
coisas naturais? Serão estas as linhas com que se desenham os contornos do dialéctico mental versando à soberba humildade etérea da terra? Pensando
bem, eu não quero respostas para esta imagem, muito menos procuro as respostas
do autor que as concebeu. Só quero olhar para ela para sempre e não perceber
nada da vida ou tentar esquecer que percebo alguma coisa dela, porque é não
percebendo que eu neste momento sou completo e que sou útil à sociedade. É
assim que eu agora sou e talvez é sendo desta forma que consiga melhor compreender o fundamento deste jogo da razão no confronto directo com o
painel cinzento dos sentimentos.