Alternativo, estimulante, composto, delineando a estranheza de uma tentação extra-terrestre que só podia ter corpo numa das terrestres mais belas, Scarlett Johansson. É logo desde o inicio que somos conduzidos para uma experiência nova onde nem cabem as referências a Kubrick ou Lynch tão eternos como esse passado e que aqui Glazer transforma em contemporaneidade através de um trabalho original, tão fino como denso, um pleno de suspense e terror de uma industrialidade vinculada ao corpo e ao som rasgado da banda sonora que ajuda a conferir grande intensidade a esta criação. É na repetição desses sons e dos caminhos que levam as vitimas humanas ao labirinto isolado e desnudo da predação, que está espelhado o toque de génio do realizador, tão imerso numa substância estranha que se define no esplendor incógnito de uma trama de erotismo e morte, sem prazer e sem gritos, de poucas palavras e um rito sempre igual mas cheio de objectivo. Atingir o objectivo em Debaixo da Pele é então um exercício feito quase sob hipnose, de forma meio delirada, surrealista, mas em simultâneo ligada à identidade de um espaço familiar. É interessante todo o cenário, cheio de propósito, um subúrbio escocês, como que no fim do mundo, um mundo perfeitamente esculpido às necessidades da sobrevivência extra-terrestre através da aniquilação da solidão masculina, ora muito viril e ignorante, ora carente por distância e exclusão, o que faz por, no fim, mostrar ao alien o que é a humanidade e que é por um lado protectora e sensível, mas por outro, ofensiva e abusadora.
Filme do ano, independente, independentemente do que digam, esta é a nova ficção cientifica do século sem grandes artifícios ou artimanhas espaciais, um pedaço de cinema magistral sem defeito que se aponte ou qualidade que se consiga verbalizar na perfeição. Enfim, um objecto intimo e permanente tal o sangue que nos corre a todos por debaixo.