
abril 30, 2013
Mamã e chora

abril 18, 2013
Infames flamingos
Andei por dias
deambulando por lugares grotescos de mau gosto e perversão mórbida tomada a
boas doses de chocante cinema. Vários exemplos e diversos caminhos podem
mostrar o êxito da provocação de baixo custo mas que invariavelmente atingem
até os mais insensíveis olhos lesando aquilo que são todos os sentidos. Ora o
sentido destas pérolas de pérfida infâmia resulta apenas no da exploração da
decadência num exercício mais-que-concreto dos mais absurdos instintos da
imaginação humana. O cinema-lixo, porventura o verdadeiro cinema do real,
reveste-se da mais vulgar vulgaridade mostrando-nos não graciosas personas as
quais a obscenidade com orgulho dizem ser delas para o mundo, invocando títulos
tal como o The Filthiest Person Alive, como mostrou John Waters numa dessas
fábulas do atrelado culto mal cheiroso americano.
Poderá ser possível tentar entender o fenómeno de Pink Flamingos à luz de uma qualquer razão lógica, contudo todo esse processo intelectual esbarra na realidade do filme e naquilo que é a prática de uma loucura sem nexo, mas que no entanto só estaria ao alcance de ser concretizada num país em pleno conflito social ressacado do amor livre e mergulhado numa guerra perdida do outro lado do mundo. À luz de uma explicação mais ou menos lógica, podemos mesmo concluir que lady Divine e todos aqueles doentes e acrobatas da repugnância que protagonizam o filme são como que filhos de Nixon, ele próprio a personificação do falhanço da responsabilidade e da decência.
Nada mais a acrescentar.
Poderá ser possível tentar entender o fenómeno de Pink Flamingos à luz de uma qualquer razão lógica, contudo todo esse processo intelectual esbarra na realidade do filme e naquilo que é a prática de uma loucura sem nexo, mas que no entanto só estaria ao alcance de ser concretizada num país em pleno conflito social ressacado do amor livre e mergulhado numa guerra perdida do outro lado do mundo. À luz de uma explicação mais ou menos lógica, podemos mesmo concluir que lady Divine e todos aqueles doentes e acrobatas da repugnância que protagonizam o filme são como que filhos de Nixon, ele próprio a personificação do falhanço da responsabilidade e da decência.
Nada mais a acrescentar.
abril 10, 2013
As sombras do lobo mau
O cinema vive muito da história que é contada mas também da forma como é contada e mostrada, pelo que confesso que a dimensão visual de um filme, não sendo por si isoladamente um factor de revelação, é um factor muito importante na minha análise e gosto. Não é por si esse factor revelador da excelência que posso ou não atribuir a um filme uma vez que já vi grandes filmes sem prevalência nesse trabalho visual, mas que não deixam por isso de ser grandes filmes. Mas se a composição visual é bem engajada no filme então esta característica ganha um outro destaque e o filme com isso ganha na consideração que faço.
Com certeza que o ciclo noir americano atingiu a notoriedade que ainda hoje é reconhecida pelos imensos seguidores do cinema muito à custa da sua visualidade. Se caracterizarmos o género noir, este aspecto visual entra com todo o propósito em conjunto com outras características transversais, como por exemplo a femme fatale. Mas o que fez o noir foi a imagem, muito mais do que a história em si. Claro que se a narrativa não valer nada, de nada vale uma boa fotografia, mas há que reconhecer que foi o estilo da imagem que deu a identidade.
O filme A Sombra do Caçador (A Night of the Hunter, 1955) merece aqui a referência. Não sendo tipicamente noir no que respeita ao tema ou à forma como é contextualizada a trama, muito dele é escuro oferecendo dos melhores contrastes e composições fotográficas que se fizeram na altura. É que apesar de haver aqui uma certa deriva em relação àquilo que se pode considerar o mainstream da forma explorada no período mais áureo do noir, o facto de se conseguir transportar toda esta carga visual para uma história que bem se podia mostrar às crianças, ainda destaca mais o poder desta característica que torna-se, neste caso, e na simbiose com aquilo que conta, um facto que torna este filme como um dos melhores e mais singulares do género.
abril 04, 2013
A sede do mal ou o toque do diabo
Aos 26 anos Orson
Welles realizou o seu primeiro filme que foi o seu legado, Citizen Kane. Tamanho
êxito anunciava uma carreira brilhante, mas como é óbvio terá sido difícil
acompanhar o grande sucesso. Poderá até haver quem diga que este filme
amaldiçoou de certa maneira a sua carreira, um pouco à semelhança daquelas
bandas one-hit wonder em que lançam um par de temas e que depois desaparecem.
Mas não foi este o caso. Welles não desapareceu e, reconhecendo mesmo que ao
longo da sua carreira possamos não encontrar grandes êxitos à dimensão de
Citizen Kane, ele continuou a realizar e a interpretar em grande estilo.
O plano que trago é
do filme Touch of Evil de 1958 que terá sido provavelmente o último grande
filme noir da História. Considerando que é de facto um excelente filme, há uma
coisa que desde cedo me atraiu nele e que é provavelmente a razão pela qual
gosto tanto do filme: nem mais do que aquela personagem interpretada por Orson Welles.
Mal vi Welles na pele daquele polícia alcoólico, velho, gordo e manco, a fumar charuto
e a encher a boca de chocolates disse que estava ali um dos seus papéis mais
emblemáticos. Há uma dimensão camaleónica em Welles que é impar e que, sempre à
sombra de Citizen Kane, não é justamente valorizada. Pois na minha opinião, o
que distinguiu Welles de outros actores seus contemporâneos foi essa sua muito
própria capacidade de se transformar, foi a forma como ele conseguiu
estabelecer uma química com o espectador através da sua presença física e pela
intensidade e credibilidade que dava à personagem.
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