abril 18, 2013

Infames flamingos

Andei por dias deambulando por lugares grotescos de mau gosto e perversão mórbida tomada a boas doses de chocante cinema. Vários exemplos e diversos caminhos podem mostrar o êxito da provocação de baixo custo mas que invariavelmente atingem até os mais insensíveis olhos lesando aquilo que são todos os sentidos. Ora o sentido destas pérolas de pérfida infâmia resulta apenas no da exploração da decadência num exercício mais-que-concreto dos mais absurdos instintos da imaginação humana. O cinema-lixo, porventura o verdadeiro cinema do real, reveste-se da mais vulgar vulgaridade mostrando-nos não graciosas personas as quais a obscenidade com orgulho dizem ser delas para o mundo, invocando títulos tal como o The Filthiest Person Alive, como mostrou John Waters numa dessas fábulas do atrelado culto mal cheiroso americano.

Poderá ser possível tentar entender o fenómeno de Pink Flamingos à luz de uma qualquer razão lógica, contudo todo esse processo intelectual esbarra na realidade do filme e naquilo que é a prática de uma loucura sem nexo, mas que no entanto só estaria ao alcance de ser concretizada num país em pleno conflito social ressacado do amor livre e mergulhado numa guerra perdida do outro lado do mundo. À luz de uma explicação mais ou menos lógica, podemos mesmo concluir que lady Divine e todos aqueles doentes e acrobatas da repugnância que protagonizam o filme são como que filhos de Nixon, ele próprio a personificação do falhanço da responsabilidade e da decência. 
Nada mais a acrescentar. 

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