junho 10, 2013

Efeitos Soderbergh

Quando Soderbergh apareceu em meados dos anos 2000 com Traffic e em seguida com o filme Ocean's Eleven, ficámos com aquela sensação de que um realizador diferente tinha surgido para se distinguir dos outros através de uma narrativa cheia de estilo e com um ritmo próprio acompanhado por boas escolhas sonoras. Se depois, a adaptação do filme original de Tarkovsky, Solyaris, ou a realização de duas sequelas de Ocean's, possam ser entendidas como opções algo ousadas ou discutíveis, parece-me que é a partir do momento em que Soderbergh faz da luta de Che Guevara em Cuba uma espécie de telenovela mexicana que as dúvidas quanto à sua originalidade podem começar a ser colocadas.
Pois em Che, cujo único bem traz a representação de Benicio Del Toro, Soderbergh começa a derivar por lugares comuns e superficialidades que até aqui, agora vejo eu, iam sendo disfarçadas pelo tal estilo e pelas boas bandas sonoras que marcavam o ritmo. E é também a partir desta telenovela, que Soderbergh parece querer marcar uma agenda esquerda em que reflecte alguns dos problemas que podem advir do mundo em crise, e para isso usa temas polémicos através de formas pouco convencionais, mas que no fundo e vendo bem as coisas, são revestidas por uma capa de juízo cliché sem profundidade. E Soderbergh marcou esta sua agenda com os filmes Confissões de uma Namorada de Serviço, cuja actriz principal é uma actriz pornográfica especialista em anal, ou Contágio, que teve a particularidade de ter tido na altura uma campanha de marketing gigantesca e em que o cartaz anunciava um grande conjunto de actores que a produção teve a audácia de ir matando desde muito cedo ao longo desse filme. Ou seja, muita forma e pouco conteúdo.
Num desvario a um determinado mindset de Soderbergh, o realizador fez um Magic Mike, que não consigo perceber, e o último Efeitos Secundários antes de uma mais do que exigida paragem sabática que ainda deixou Behind the Candelabra, que parece-me ser um daqueles filmes à boa pinta de Soderbergh. Mas à medida que vamos vendo o último Efeitos Secundários, apesar de toda a fragilidade que está implícita na demonstração de cada personagem, há algo de perturbador e real, principalmente em Mara. E à medida que o filme avança e em que vamos percebendo que o que está aqui em causa é uma trama em torno do lobby farmacêutico, cuja leitura de interesse se estende até ao 9/11 que é referenciado com todo o propósito no filme, que vemos que a agenda esquerda de Soderbergh está de volta em forma mais amadurecida. Mas, lamentavelmente, no final, Soderbergh fez questão de nos fazer lembrar da sua falta de ambição e coragem e opta por um caminho não largo, mas estreito e apenas focado no desfecho da vingança pessoal esquecendo tudo aquilo que o filme ia anunciando. Se há situação em que a palavra frustração se pode aplicar, este é um desses casos.


2 comentários:

  1. Tenho mais curiosidade em andar para trás na sua carreira do que para a frente, tendo como preferido o "Sexo Mentiras e Vídeo". Acho-o um realizador interessante e gostei do Ocean's eleven e do Traffic. Dos últimos este pareceu-me ser dos mais bem falados e fiquei curioso em espreitar.

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  2. Não conheço bem a filmografia de Soderbergh, dele só vi mesmo os Ocean's e o Side Effects. Quanto a este, partilho completamente a tua opinião...é deveras frustrante assistir à recta final da história, que perde toda a ambiguidade e ousadia que envolvia o filme e desperdiça miseravelmente o talento de Mara...

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