junho 15, 2013

"Terrível palavra é um NON"


A cena inicial de Non ou a Vã Glória de Mandar é provavelmente uma das melhores sequências da história do cinema porque representa a verdade do tempo, do tempo imenso maior do que qualquer plano, tal as aspirações do povo lusitano cujo mar serviu para dar a ilusão de grandeza a um país limitado a uma pequenez que as fronteiras naturais quiseram obrigar. E Oliveira mostrou que a árvore vista de diferentes planos oferece sempre uma perspectiva diferente tal os momentos da nossa História. A árvore é pois um facto que se foi consumando ao longo do tempo e a nação foi-se consumando com ela e para ela.
País de Viriato ao "orgulhosamente sós", sós contra os romanos e contra o mundo, fundado na negação da civilização e que depois despertou para a missão messiânica de governo do mundo, NON não trata pois de traçar o retrato da pátria lusa como primeira nação da Europa à luz das conquistas e vitórias militares, mas através da obstinação que levou às batalhas perdidas e que resumem a tragédia do nosso destino. Destino que foi o de dar novos mundos ao mundo por mares nunca dantes navegados, mas que encerrou a tragédia no desastre de Alcácer-Quibir de onde nasceu o mito, o mito tornado verdade. Na reconstituição dessa história estão aqueles que lutariam também numa guerra perdida, séculos depois de se ter a utopia na mão e o mundo no mar, o colonialismo e a guerra do ultramar já eram os sinais da decadência de um Império que teve um nome, mas que nunca foi, o Quinto.
No final, um soldado morre e, vindo do mar nublado, assomou encoberto o desejado dia que deu ao país a esperança de um novo mundo português libertado do delírio imperialista que afinal só serviu para dar à Língua um estatuto de património, sendo no entanto dádiva que não apaga a humilhação da história. No final, foi Sebastião que tomou o corpo de abril, regressando à nação agora sem império e sem orgulho, para devolver a glória que nunca conheceu. Mas em 74, já longe do mar e dos deuses, a glória mais não era do que paz, paz e liberdade.
Nesse Abril revolucionário, poderá ter havido uma altura em que pensou-se que era chegada a altura de finalmente enterrar o nosso rei, aquele rei-mito e personificação da salvação nacional. E se o 25 de abril trouxe a salvação sobre a ditadura, aos dias de hoje continuamos a olhar para a árvore, já noutro plano e com outra perspectiva, e vemos que a paz e a liberdade não trouxeram por si só o bem estar que almejávamos. A verdade é que Portugal vê-se agora sem território e nem autonomia, ocupado pela lei financeira que parece perpetuar a tragédia do nosso destino que julgámos um dia ter terminado. E assim, cansados e desgastados por este jugo que parece já ter 1000 anos, continuamos à espera que se faça cumprir o desígnio português sem no entanto fazermos ideia do que somos e do que queremos ser.

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