Passion tem coisas muito interessantes. Embora ligeiramente perverso esperava mais erotismo e sadismo sexual, mas talvez isso seja reflexo de um desejo praticamente inconfessável que eu tenho para mim, mas que foi provocado desde logo pela primeira cena. Não é que a inclusão de uma componente ainda mais sexual fosse acrescentar algo de mais extraordinário ao filme, mas é um facto que o apelo sexual que é lançado por Rachel McAdams suscita logo o desejo em vermos materializada em sexo aquela tensão que, com o evoluir do filme vemos, mais não é do que objecto de manipulação num mundo mais do que material roçando mesmo a obscenidade dados os princípios que estão aqui em causa. E esta provocação sexual não é um pormenor. Sendo a ambição profissional o que move as personagens, ela manifesta-se através da chantagem sexual que torna-se como que adjectivo central da história. E isto claro que leva à acentuada perversão da personalidade protagonizada por Noomi Rapace que se vê envolvida num emaranhado de desejos materializados nos seus sonhos e que se vão misturando com a realidade num processo de vertigem e indecisão da verdade de um crime anunciado e materializado por entre as sombras.
Brian De Palma faz aqui mais um filme diferente que merece ser olhado com atenção, embora inevitavelmente sujeito a critica. A aparente falta de profundidade no desenrolar da história e também alguma falta de dimensão às personagens não é mais do que o suporte certo para a representação de um determinado interior obsessivo do ser humano capaz de tudo em situações de crise. E a deriva pela singularidade de De Palma neste Passion faz-se sobretudo pela forma como está construída a segunda metade do filme, em que são claras as influências do noir americano ao giallo italiano, o que faz prova deste filme como um sinal de vitalidade de um grande realizador que não desiste de fazer algo inovador.
Ora nem mais. Confesso que até me surpreende, e depois de o ter visto, a opinião generalizada que tem povoado um pouco por todo o lado - de que o filme é manifestamente mau. Na minha opinião, é um grande filme, sobretudo se atendermos aos dias de hoje em que tudo e todos se restringem em demasia ao argumento e a histórias sempre contadas segundo a mesma mecânica de filmar, fácil e desinteressante. Aqui, sim, temos construção, dúvidas e conduções, no mínimo, de elogiar e de se apreciar (à lá Hitchcock).
ResponderEliminarCumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo