Desde muito cedo o cinema encarregou-se de dar corpo ao lado mais sombrio do imaginário humano através das primeiras personagens dos filmes de terror e pode-se dizer até que foi aí nesse período mais vampírico e fantasmagórico da ficção que se criou o conceito de entretenimento de horror e o franchise. O exemplo mais claro disso foram os vários filmes que se fizeram sobre Frankenstein onde se explorou aquela ideia mística do monstro, da aberração, do não-humano… No início todas essas ideias foram tomadas com toda a seriedade e medo da época, mas também com uma certa ingenuidade, o que foi determinante para produzirem-se os grandes clássicos com os seus actores míticos amaldiçoados por aquelas horríveis personagens.
Já não será tão inocente, a profusão de serial killers mascarados que surgiram a partir dos anos 70 e 80, e respectivas sagas de terror. Halloween, Sexta-feira 13 ou Pesadelo em Elm Street são verdadeiros marcos no cinema de terror porque conseguiram ganhar novos públicos para o terror. Apesar de esconderem a sua identidade, não há nada de misterioso em Michael, Jason ou Freddy, embora Freddy seja um caso diferente, mas que mesmo assim poder-se-á encaixar nesta lógica. Eles assassinam sem piedade e sem gosto ou grande razão aparente.
O regresso de Leatherface vem com uma certeza e assume um compromisso. A certeza é a de que o género está vivo e o compromisso é que a motosserra vai continuar a chacinar por mais uns anos. Mas há mais uma certeza. Como em todos os casos, o excesso de sequelas vai fazer com que a saga caia numa vulgaridade que desgasta o que de marcante e original teve o seu primeiro filme.
O Massacre no Texas de 74 pode agora ser entendido como o primeiro slasher film para as massas, apesar dessa primeira produção ser de baixos recursos. O que esse primeiro filme fez foi pegar em toda a tensão e violência dos filmes exploitation ou b acrescentando uma personagem claramente pensada para aterrorizar, para arranhar os nossos ouvidos por dentro e que, de uma maneira muito retorcida, ser humanizada pela forma com que o assassino toma a vida das suas vítimas, fazendo das suas caras a sua máscara.
Mas na verdade, este terror bruto, com todo o realismo supérfluo e toda essa crueldade previsível, mais não faz do que fazer precipitar o susto simples e despertar o nosso lado mais primitivo e básico, ao contrário do fascínio que emanava daquele primeiro terror de Nosferatu, Drácula ou Frankenstein que, por aos nossos olhos de hoje parecerem autênticos romances líricos, ainda permanecem como a referência insuperável do género enquanto personagem-caricatura de mal.
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