Andei por dias
deambulando por lugares grotescos de mau gosto e perversão mórbida tomada a
boas doses de chocante cinema. Vários exemplos e diversos caminhos podem
mostrar o êxito da provocação de baixo custo mas que invariavelmente atingem
até os mais insensíveis olhos lesando aquilo que são todos os sentidos. Ora o
sentido destas pérolas de pérfida infâmia resulta apenas no da exploração da
decadência num exercício mais-que-concreto dos mais absurdos instintos da
imaginação humana. O cinema-lixo, porventura o verdadeiro cinema do real,
reveste-se da mais vulgar vulgaridade mostrando-nos não graciosas personas as
quais a obscenidade com orgulho dizem ser delas para o mundo, invocando títulos
tal como o The Filthiest Person Alive, como mostrou John Waters numa dessas
fábulas do atrelado culto mal cheiroso americano.
Poderá ser possível tentar
entender o fenómeno de Pink Flamingos à luz de uma qualquer razão lógica,
contudo todo esse processo intelectual esbarra na realidade do filme e naquilo
que é a prática de uma loucura sem nexo, mas que no entanto só estaria ao
alcance de ser concretizada num país em pleno conflito social ressacado do amor
livre e mergulhado numa guerra perdida do outro lado do mundo. À luz de
uma explicação mais ou menos lógica, podemos mesmo concluir que lady Divine e todos
aqueles doentes e acrobatas da repugnância que protagonizam o filme são como que filhos de Nixon, ele próprio a personificação do falhanço da responsabilidade e da decência.
Nada mais a acrescentar.
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