Confesso que vi o Cavalo de Turim em dois ou três dias, porque adormeci. Não imputo total responsabilidade ao filme porque provavelmente também pesou o cansaço dos meus dias, mas quando acabei de o ver escrevi um poema que não cabe aqui reproduzir. Mas foi isto que o filme meu deu, um poema. E nos dias que correm, com uma desinspiração de versos latente, isso só pode ser uma coisa boa. E o Cavalo de Turim foi uma coisa boa que aconteceu o ano passado.
Não será digerível
para a maioria das pessoas e quem não lhe reconhece o valor ou o mérito não
merece castigo. É uma questão de gosto, sensibilidade ou disponibilidade e isso
não se discute. É verdade que ao longo do filme está sempre a passar a mesma
música, é verdade que somos confrontados sempre com as mesmas tristes rotinas
uma vez e outra e outra vez, é verdade que há poucas falas e que há sobretudo
silêncios e vento, muito vento. Confrontados com esta afronta aos nossos
sentidos que pode fazer exasperar até os mais pacientes levando à desistência
do filme, é bom reconhecer que também nós, confrontados diariamente com os
mesmos problemas, com os mesmos acordares, com os mesmos hábitos e despertares,
com as mesmas pessoas ou com os mesmos lugares, não desistimos das nossas vidas.
Nós continuamos, uns mais conformados do que outros, mas continuamos. A nossa
vida é em si um acumular de rotinas e excessos de desmedidas banalidades,
apenas mudam os objectos a que nos agarramos e que determinam as nossas
prioridades.
Sem grandes pretensões, tal a vida dos mais simples, o Cavalo de Turim de Béla Tarr manifesta a pureza do objectivo, a luta pela sobrevivência, um cuidar até à morte daquilo que nos é querido e uma homenagem a quem resiste contra a ventania.
Sem grandes pretensões, tal a vida dos mais simples, o Cavalo de Turim de Béla Tarr manifesta a pureza do objectivo, a luta pela sobrevivência, um cuidar até à morte daquilo que nos é querido e uma homenagem a quem resiste contra a ventania.
Bom texto, apesar de o filme não me dizer muito. A parte técnica é fantástica e, indo de encontro ao que escreves, acho interessante quando a repetição equivale a transformação, mas não me parece que Tarr atinja esse efeito.
ResponderEliminarBoa sorte com o blog :)
Já tinha tentado ver esse filme anteriormente e só o consegui ver na íntegra com uma segunda visualização passado bastante tempo, acho que precisava de estar com um estado de espírito correcto. Concordo contigo, não é um filme para qualquer um devido ao seu ritmo um tanto ou quanto cansativo. O trabalho de câmara é deveras grandioso, tal como a fotografia. A música é realmente hipnotizante, ficou-me na cabeça durante vários dias. E o melhor do filme é o plano-sequência inicial.
ResponderEliminarCumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori
Eis a minha opinião - http://ohomemquesabiademasiado.blogspot.pt/search?q=o+fim+de+tudo
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